segunda-feira, 31 de março de 2008

O GUARDA-FREIOS (O ANJO DA GUARDA)


O pioneirismo da ferrovia registra passagens de personagens anônimos, alguns destes, verdadeiros heróis.

Pessoas humildes, que não obstante sua simplicidade, deixaram exemplos sublimes de amor e dedicação às suas lides profissionais, transformando-as em verdadeiro sacerdócio. O grau de envolvimento, chegava a ser tão forte que muitas das vezes extrapolava seu aspecto puramente profissional e o ferroviário defendia a instituição com ardor, orgulhando-se dela o e dedicando-se de corpo e alma a sua profissão, que era a razão maior de sua existência.

Não raro, o rude trabalho o expunha a riscos iminentes e exaustivos sacrifícios, mas isso não lhe causava desalento. Quando o pesado comboio passava com a batida cadenciada das rodas nas emendas dos trilhos e o som todo característico do vapor sendo expulso pelas escuras chaminés, o dedicado ferroviário sorria envaidecido, sentindo um calafrio a percorrer seu corpo. Ele fazia parte daquele espetáculo, e se sentia orgulhoso disso !

Dentre a extensa lista de funções existentes na ferrovia, é consenso que a mais perigosa dela era a de Guarda-Freios.

A locomotiva a vapor, antes da extraodinária invenção de George Westinghouse - que dotou as composições ferroviárias do sistema de frenagem pneumático até hoje utilizados - funcionava com um limitado sistema de freio a vácuo, que deixava muito a desejar, sobretudo em regiões de declive acentuado.

Objetivando reforçar a frenagem do trem na descida da serra, o Guarda-Freios subia no teto dos vagões e utilizando um volante ali existente, freava manualmente cada um deles.

Com o trem em movimento, o Guarda-Freios era obrigado a saltar de um vagão para o outro para apertar os volantes, tarefa que envolvia um altíssimo risco, e exigia uma habilidade sem precedentes deste corajoso ferroviário.

Além do risco de desequilibrar-se com o balanço do trem, ou de escorregar no teto molhado pela chuva, ou mesmo de tropeçar nos antiquados passadiços de madeira existentes, existia uma ameaça maior, os túneis. Devido a reduzida altura das locomotivas a vapor, os túneis eram também muito baixos. O Guarda-Freios, concentrado na sua tarefa, muitas das vezes descuidava-se deles e era colhido de surpresa. Acidentes aconteciam com frequência e quando não causavam a morte, sempre ocasionavam sérios ferimentos às suas vítimas.

O maquinista comunicava-se com o Guarda-Freios utilizando-se do apito. Assim, através de um código pré-estabelecido, os freios eram apertados ou afrouxados ao longo do trecho em que era necessária a utilização do freio manual. Ao longo da viagem o Guarda-Freios tinha de subir e descer dos vagões, apertando e desapertando os volantes manuais quantas vezes fossem necessárias.

E neste trabalho árduo, exaustivo e extremamente perigoso, colocavam sua própria vida em risco para garantir que o trem chegasse a seu destino com segurança.

Heróis anônimos da nossa história ferroviária, avançavam por onde quer que houvessem trilhos, enfrentando ora o frio, a umidade e os ventos gelados da serra, ora o calor extenuante que encharcava a camisa e tornava o ar pesado, quase irrespirável.

A estes valorosos profissionais, que com sua garra e coragem, muitas das vezes tombaram no cumprimento do dever, registramos nossa singela homenagem.

As estradas de ferro de todo o mundo devem a esses heróis anônimos, o tributo de serem o são hoje.

2 comentários:

Anônimo disse...

muito bonita toda a explicação, emocionante a profissão e o modo que foi escrito
een.unir@hotmail.com

Arruda disse...

Grato pelo comentário.