terça-feira, 25 de março de 2008

FOTOGRAFIA DE UM OBSCURO EPÍLOGO

Manhãs pardacentas envoltas em brancas brumas que ora ofuscam, ora espairecem.

Névoas que sobrevoam o éter invadindo sem escrúpulos o âmago de uma mente ébria.

Devaneios doentios e amargos que insistem em macular minh’alma ainda vulnerável não obstante o passar dos anos.

Pensamentos a refletir ecos de décadas que se foram, a me torturar como parasitas mentais, remexendo no mais profundo de meus sentimentos.

Estado de alma febril a clamar pelo impossível, a cobrar o inatingível, na ânsia insana desta busca abstrata.

Lágrimas represadas insistem em marejar os olhos, inundando meu rosto de sulcos fervilhantes de recordações, que escorrem e molham meu peito marcado pela dor.

Devaneios doentios e amargos que insistem em macular meu coração ainda machucado e dolorido, não obstante o passar do tempo.

Aspectos de uma vida vivida e sofrida tão intensamente, marcando a ferro e fogo toda uma existência ...

Como se a vida se incumbisse de fotografar aqueles momentos e de tempos em tempos me mostrasse a foto, transportando-me no tempo e no espaço, a reviver os momentos vividos.

Os mesmos cheiros, os mesmos sons, as mesmas cores, a mesma atmosfera...

O calor do seu hálito morno a acariciar meu rosto, suas pequenas mãos a tocar meus cabelos, sua voz terna a sussurrar nos meus ouvidos...

Fantasmas de um tempo vívido e ao mesmo tempo sombrio, maculado pela dor de um triste epílogo, naquela plataforma repleta de anônimos transeuntes.

E chegamos ao fim...

Um sino, um apito, o ronco da G-12. Mãos se acenando, lágrimas escorrendo, coração sangrando, peito arfante, pernas cambaleantes, desespero estampado no rosto !!!

E o fim...

Devaneios doentios e amargos que insistem em dilacerar meu peito ainda não cicatrizado, não obstante o tempo implacável que já fez passar duas décadas.

Plataforma, trilhos, apitos, sinos, ranger de rodas, adeuses, lágrimas, e o trem sumindo na curva...

O fim ....

O cruel e inevitável fim ....

Ficaram as marcas desse tempo que se foi ....

“Não quero ficar na sua vida...como uma paixão mal resolvida...” já dizia o poeta.

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