segunda-feira, 27 de abril de 2009

PAZ NA TEMPESTADE

Sempre gostei muito de acampar.
Caminhar pelas matas, dormir às margens dos rios, pescar durante a noite toda vendo o reflexo das estrelas nas águas cristalinas dos riachos, ouvir o cricrilar dos grilos e o canto das cigarras...
O contato com a natureza sempre foi para mim algo extremamente prazeroso (e necessário para reposição das minhas energias).
Lembro-me que num determinado dia, marquei com um inseparável amigo, um acampamento selvagem (sem barracas e nenhuma estrutura), numa mata distante aproximadamente uns 20 km da minha casa.
O sábado amanhecera chuvoso e minha mãe insistia que não fôssemos, mas entusiasmados com a idéia, não desistimos, seguimos adiante mesmo com o tempo adverso.
Caminhamos até o local e já chegamos lá com chuva pesada. Nossa roupa e tudo o que levávamos na mochila já estavam, nessas alturas, absolutamente ensopados.
Lembro-me, entretanto, que nossa alegria era tanta que beirava à euforia.
Divertíamos-nos com a água daquela chuva torrencial, com os trovões, com a lama que pisávamos, e quanto chegamos à gruta de pedra onde permaneceríamos para ali pernoitar, para nós foi como se tivéssemos chegados ao paraíso.
Entre os adeptos do chamado “excursionismo pedestre” (aqueles que gostam de caminhar pelas matas e muitas das vezes lá pernoitar utilizando os próprios recursos da natureza), existe um “código de ética” e dentre eles um que jamais é desprezado. “Sempre que você pernoitar em uma gruta, ao sair deixe uma boa quantidade de lenha seca bem protegida, para que o próximo que ocupar aquele lugar possa encontrar este precioso recurso no caso de chegar com chuva àquele local.”
E assim foi, encontramos a lenha seca, acendemos uma fogueira para enxugar nossas roupas e preparamos nosso jantar (uma lata de feijoada).
Choveu o dia todo e a noite toda. Raios faiscavam e por vezes clareavam alguma parte da mata (felizmente longe de nós). Com um minúsculo radinho à pilha, ouvíamos as músicas em meio aos estáticos da tempestade e alegremente cantávamos juntos, dando longas gargalhadas.
Ficamos acordados até de madrugada, depois, vencidos pelo cansaço, dormimos sob o gostoso barulhinho da chuva caindo entre os galhos e folhas que nos rodeavam.
Acordamos mergulhados em uma densa neblina (lindo!!!), o tempo continuava fechado e agora apenas chuviscos se faziam notar ao nosso redor.
Fizemos café e fomos andar na mata, para “curtir” (curtir o que? os leitores devem estar se perguntando...)
Mas curtimos sim ! Curtimos barro, escorregões, tombos sucessivos, o corpo ensopado de água e lama.....
E curtimos ver o pequeno e tímido córrego bastante cheio (orgulhoso por se sentir “quase um rio”).
E curtimos andar naquela neblina densa (nos sentimos nas nuvens!).
O fato é que o dia amanheceu chuvoso, choveu durante todo o dia e voltamos para casa debaixo de chuva, chegando quase ao anoitecer.
Meu pai, preocupado e atendendo aos insistentes pedidos de minha mãe, foi ao nosso encalço e nos encontrou caminhando sobre a linha férrea, no momento em que passávamos sobre a ponte do Rio Paraíba.
Estávamos cansados e molhados, porém, vínhamos cantando e alegres pela aventura.

Hoje, 32 anos depois do acontecido, quando me lembro deste episódio, meus olhos se enchem de emoção (e aquela alegria eufórica invade minha alma, mostrando o quanto aquele momento foi importante na minha vida).

Durante minha vida foram centenas as vezes que acampei, pesquei e vivi momentos memoráveis em meio à mata, às margens dos rios, em contato com a natureza... Porém, este episódio ocupa nas minhas memórias um lugar de destaque, pois foi o mais representativo, o que mais me deixou impressões agradáveis, ESTE REALMENTE É INESQUECÍVEL!!!

Trago à reflexão o aprendizado desta experiência.

O dia estava feio, chuvoso, úmido.
Uma tempestade riscava os céus, estávamos molhados, com frio, tudo em nossa volta era cinzento e uma densa neblina tomava conta de tudo.

Mas nossos corações estavam em festa !
Nossa alma encontrava-se mergulhada em tamanha alegria que nada disso conseguia turvar nossos pensamentos e nossas emoções.
Divertíamos com os tombos, com a lama que sujava nosso corpo e nossas roupas.
E cantávamos ao som do estridente radinho de pilha, cuja música se misturava com os ruídos estáticos da tempestade.

A lição que isso deixou na minha vida é que não importa “o cenário no qual estamos mergulhados”, que não importa as tempestades que surjam no nosso caminho, que mesmo diante de tais intempéries, PODEMOS SER FELIZES !

Somos senhores dos nossos pensamentos e através da mente temos o controle das nossas vidas. Pensamento é energia e plasmamos o “estado mental” em que optamos por viver.

Se buscarmos a felicidade dentro de nós, conseguiremos ser felizes mesmo diante dos percalços. Enfrentaremos os desafios como abençoada oportunidade de trabalho a nos acenar para nosso crescimento interior que nos levará à almejada perfeição.

Somente com esta postura diante da vida, conseguiremos manter um cenário de PAZ, mesmo diante da TEMPESTADE.

Um comentário:

Pat disse...

Oi Antonio !!

Apesar do pouco momento que estivemos juntos, na situação de "consultório médico" sabia que vc era especial e um homem BOM , pode ter certeza que quem mais ganhou na nesta relação fui eu. Parabéns pelos textos, escreve muito bem !!!

Agora serei sua fã. Um abraço, Patricia