terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Despedida na estação

O rapazinho imberbe, beirando seus 15 anos aproxima-se da estação.

De mãos dadas com uma bonita jovenzinha, talvez da mesma idade, caminham em direção à plataforma, do lado da R.M.V. ( Rede Mineira de Viação ), onde já se encontra estacionado o trem de passageiros que em breve sairá rumo ao sul de Minas.

O rapaz olha nervoso o relógio, por diversas vezes. Observa com tristeza o trem ali parado e olha para o rosto de sua namorada com um sorriso amarelado no rosto a estampar toda a amargura que invade seu coração.

Sobem a plataforma, sentam-se no banco de madeira e abraçados começam a conversar...

O jovem enamorado, inconformado com a partida de sua amada, começa a acariciar aqueles negros cabelos como se adivinhando ser aquela a última vez que teria oportunidade de fazê-lo.

Tateia o rosto de sua musa encarando-a profundamente e beija aqueles lábios que tantas vezes beijou, mas desta vez sente que há alguma coisa diferente, não sabe explicar o que...

Encosta o rosto no ombro dela e chora lágrimas de sangue, que partem de um coração dilacerado pela dor da partida; não se conforma com o fato de não poder vê-la mais diariamente, como o fez nos últimos meses...

Segura suas mãos, os olhos avermelhados denunciam sua dor, ofegante e entre soluços tenta balbuciar algumas palavras que não conseguem sair da garganta...

Ela observa a tudo passiva, ameaça algumas lágrimas também, mas é mais forte (ou sofre menos que ele !? ), tenta animá-lo, incentivá-lo a prosseguir, - “afinal a vida continuará não obstante sua ausência...”

Sua tentativa é em vão; ele continua a chorar e agora, desesperado, abraça-a mais apertado, num forte e comovido amplexo do qual não quer nunca mais se separar...

E os minutos se passam rápido, para seu desespero ainda maior !!

Agora já não tem mais lágrimas...

Apenas soluça com a garganta seca e o olhar amargurado.

A possante G-12 da GM se aproxima e engata-se no comboio dando amostras de que o momento da partida se aproxima.

Ela olha o relógio, olha para ele, sinaliza com os olhos que irá embarcar, levanta-se e ele segura suas mãos como a impedi-la; mas acaba se levantando também e caminha para a o vagão de madeira, subindo os degraus junto com ela e deixando-a sentada num dos bancos junto à janela.

Sai do vagão e do lado de fora continua a segurar aquelas pequenas mãos que agora estão trêmulas e suadas.

Conversam em silêncio ! Apenas os olhos que se fitam profundamente, mantém um diálogo mudo e misterioso que só aqueles que se amam consegue lográ-lo.

O chefe do trem sinaliza gesticulando e chamando os passageiros ao embarque; está na hora do expresso sair...

O chefe da estação sinaliza com um apito avisando da liberação e a G-12 acelera seus motores com um ronco ensurdecedor. Calmamente, alheia a tudo e a todos, começa a arrastar o comboio que suavemente desliza sobre os trilhos da bitola métrica, rumo às alterosas.

O casal continua de mãos dadas... O jovem rapaz , agora a correr sobre a plataforma, insiste em segurar as mãos da garota que se levanta e põe parte do corpo para fora da janela. Ambos choram e ele grita de emoção e dor ao vê-la partir sem nada poder fazer...

Acaba-se a plataforma. Ele solta suas mãos entre soluços e observa que ela joga algo pela janela .

O trem afasta-se gradativamente e ao longe ele ainda consegue ver uma pequena mão a acenar, até que o trem desaparece por completo, e agora somente se ouve o ruído da locomotiva que se afasta mais e mais...

Desolado, o rapaz caminha pelos trilhos e encontra sobre as pedras um pequeno embrulho. Apanha-o e encontra um chiclete de hortelã, e escrito em caneta, sobre o papel que o envolve as doces palavras: - Eu te amo !! Eu volto ...

Aquilo o faz chorar ainda mais...

Senta-se na plataforma, esconde o rosto entre os joelhos. Está sem forças, a cabeça dói, o peito arfante se contrai causando-lhe náuseas. Sente-se doente...

Não tem mais vontade de viver...

A vida perdeu o sentido desde que ela se fora naquele trem....

Mas não sabia ele que a vida lhe pregara uma peça !

Ainda iria sofrer muito com aquela perda !

Aquilo era apenas o começo de um sofrimento que o torturaria por muito tempo roubando-lhe noites de sono, dias de ventura e sua vontade de viver...

Guardou aquele chiclete por mais de dez anos...

E nunca mais a viu !!!

Um comentário:

Erica disse...

Arruda, esse daí é o meu preferido do Sonho sobre Trilhos. Que bom que você está compartilhando isso com quem quiser se aventurar nessa viagem!
Grande beijo,
Kika